A origem dos Movimento chamado " Os irmãos"
1. INTRODUÇÃO
Em que consiste este movimento chamado de
"Irmãos"? Para muitos dos seus amigos cristãos, eles aparecem como
figuras indistintas, um pouco exóticas, possuídas de um forte desejo de
permanecerem anónimos, e sem pretensões de serem reconhecidos como
denominação vasta e influente. Têm muitos salões de reunião, mas nenhuns
profusamente decorados, ou arquitectónicos templos de adoração. São
normalmente vistos como cristãos bem intencionados, mas desprovidos de
história, e dificilmente de qualquer identidade.
É contudo interessante notar que um
historiador, ao escrever acerca do movimento dos Irmãos, começou as suas
observações afirmando o seguinte: "...não tem paralelo em toda a
história da Igreja de Deus, visto que em nenhuma outra altura foi a
Palavra de Deus por si só e liberta de qualquer tradição, tomada como
guia daqueles que têm buscado um reavivamento na Igreja de Deus". - H.
Soltan, 1863.
Muitas pessoas considerarão a afirmação acima
como algo de extravagante, mas verifica-se que ainda hoje os Irmãos
aderem muito de perto à Palavra de Deus, e buscam ser primariamente
guiados por essa Palavra.
Assim, a pergunta tem que ser feita: Como
surgiu este movimento? Onde começou? Quem foram os homens e mulheres
envolvidos no seu começo? Será que a voz deste movimento tem alguma
relevância no mundo evangélico actual? Terá ele tido algum efeito
marcado na mudança do padrão do pensamento evangélico desde o seu
princípio? De forma a poder responder a todas estas perguntas com
profundidade, seria necessário ter-se ao dispor mais tempo e material do
que este escritor possui. Só nos é permitido assim oferecer um breve
esboço da história do movimento, referindo sumariamente algo relacionado
com os esforços missionários (ou seja, a difusão do movimento à escala
mundial), e considerando a posição doutrinária e situação actual do
movimento, no fecho do século XX.
2. A ORIGEM |
Ao olharmos para a história do movimento dos
Irmãos, chegamos rapidamente à conclusão de que se trata de uma
descrição cativante de uma contínua herança espiritual que tem suas
raízes nos tempos apostólicos. É verdade que o movimento agora conhecido
por Irmãos (Irmãos Plymouth, Irmãos Cristão pode ser reconstituído até à
data de 1825, mas sido provado que este foi simplesmente um saliente,
marcando um acontecimento dentro de movimento constante do Cristianismo.
A declaração de Soltan (referida no capítulo 1), conquanto possa ser um
pouco enfática, mostra pelo menos uma coisa: se os pioneiros Irmãos
estavam pisando caminho bem gastos por anteriores espíritos radicais,
fizeram-na na ignorância de seus predecessores. O momento foi uma
erupção espontânea de um continuado elemento no cristianismo, que ainda
hoje é largamente ignorada pelos escritores de assuntos religiosos.
Não se pode assim marcar uma data definida
para o começo desta obra de Deus que conhecemos como movimento dos
Irmãos. Ao contrário disto porém, parece que durante um determinado
período de tempos certos homens piedosos reconheceram que nem tudo
estava bem com a Igreja estabelecida. Eles ansiavam por uma caminhada
mais íntima com o Senhor, e um relacionamento mais simples e
significativo com Ele.
Na maior parte dos países da Europa Ocidental e
na maioria dos grupos religiosos, o começo século XVIII foi marcado
como sendo uma altura de declínio da vitalidade. Nos países
católico-romanos Roma dominava e determinava os termos pelos quais
pessoas se podiam aproximar do Senhor. Nos países protestantes estava-se
na idade da razão, e todas as formas de fervor religioso eram
consideradas perigosas e degradantes Os pioneiros Irmãos foram de muitas
formas uma reacção contra a atitude dominante e ditadora do catolicismo
romano, e a inércia e superficialidade do protestantismo em geral. Não
há nenhuma dúvida que eles estavam na vanguarda da reforma radical. "O
seu movimento, cristalizando à volta de líderes de personalidade e
influência, focalizou algumas das tendências que tinham estado presentes
em todos os desenvolvimentos desde Wycliffe". - F. R. Coad.
Ele juntou uma alta insistência na conduta
santa, a um apelo directo às Escrituras, acima da cabeça de qualquer e
toda autoridade existente; a rejeição de ditaduras ministeriais, o
conceito da Igreja como comunhão e unidade de todos os crentes, e a
libertação dos dons em todos os membros da congregação.
Homens como Anthony Norris Groves, J. N.
Darby, Lord Congleton, J. G. Bellett, Dr. Edward Cronin e outros,
ficaram impressionados com a importância, bem como com a possibilidade
de um retorno à Palavra de Deus. Não apenas para assuntos relacionados
com a salvação pessoal, mas também em assuntos de conduta e o testemunho
das Igrejas.
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Da Inglaterra, o movimento espalhou-se
pela Suíça, Alemanha, Holanda, Itália, Canadá, E. U A., Índias
Ocidentais, Nova Zelândia, mas alguns mais tarde. Tal foi o início
daquilo que é agora conhecido por movimento dos "Irmãos". Este nome
nunca foi apropriado pelos irmãos pioneiros, os quais não conheciam
outro nome a não ser o do Senhor Jesus Cristo. O nome, quer seja Irmãos,
Irmãos Plymouth, Irmãos Cristãos, etc., tem sido aplicado por outros e
contudo é ainda verdade que as muitas assembleias espalhadas por todo o
mundo se reúnem apenas no Nome que é sobre todo o nome, o Nome do Senhor
Jesus Cristo. Os homens e mulheres pioneiros deste movimento não
tiveram nenhum desejo de ter qualquer título exclusivo, a sua única
preocupação era um retorno à Palavra de Deus com única autoridade em
relação à sã doutrina, vida pessoal, e reuniões colectivas dos filhos de
Deus.
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A actividade missionária do movimento é
algo de espantoso. Logo desde o início, e começando com A. N. Greves, o
seu zelo missionário foi algo de notório É difícil haver algum país do
mundo que não tenha sid6 afectado por este movimento.
Assim, longe de constituir um movimento mera
mente anglo-saxónico, ele espalhou-se até aos quatro cantos da terra.
Na maior parte dos antigos países comunistas (de leste) podiam e pode
encontrar-se assembleias de cristãos que se reúnem sob os princípios
simples do Novo Testamento, os mesmos princípios que foram a luz
guiadora dos primeiros "Irmãos". Deus, na Sua grande graça, tomou e
enviou das suas fileiras vastos números para testemunharem em terras
estrangeiras.
Em 1829, A. N. Groves, dependendo apenas de
Deus, foi até Bagdade, capital do Iraque, por meio de um pequeno iate,
indo primeiro a S. Petersburgo (ex-Leninegrado), e depois através do Sul
da Rússia, em carroça, até Bagdade. Foi com sua esposa e dois filhos,
de 9 e 10 anos, o tutor dos rapazes, a irmã de sr. Groves, Lídia, Miss
Taylor, e o sr Bathie, um jovem da Irlanda. Depois de terríveis
contratempos, começaram a trabalhar em uma região que estava sendo
devassada pela praga bubónica. Quase todos es habitantes da cidade eram
muçulmanos fanáticos que se deliciavam em assassinar pessoas, fazer
guerras e roubar. Durante aquele tempo, Mary Groves morreu atingida pela
praga, bem como o pequeno bebé que lhes tinha nascido. Mais de 30.000
pessoas pereceram naquela terrível doença. Durante todo aquele tempo
Groves tinha-se mantido fiel ao seu Senhor, dependendo dEle apenas para
suprir às suas necessidades. De Bagdade, Groves foi até à Índia, e
estabeleceu ali o trabalho no Delta Godaveri. Visitando e Inglaterra em
1853, ficou enfermo, e passou à presença do seu Senhor na casa de George
Müller, em Bristol, com a idade de 58 anos.
Groves era um exemplo típico dos velhos
pioneiros, aqueles que através de labutas auto-impostas e sacrifícios
levaram e Evangelho a muitas terras, estabelecendo assembleias de povo
de Deus, e dando muitos o seu todo, e mesmo até suas vidas por amor ao
Evangelho.
A obra no continente europeu tinha sido
ajudada por uma viagem evangelística na Espanha., em 1832, conduzida por
R. C. Chapman. Mais tarde, isso foi acompanhado e seguido por
ensinadores, e depois de 1869 a obra desenvolveu-se em Barcelona,
Madrid, e na província da Galiza.
Cerca de 1870, a obra desenvolveu-se também em Portugal, e tornou-se em um dos maiores grupos evangélicos no país.
Um trabalho interessante começou na Itália,
sob a liderança de Conde Piero Guiccardini, cabeça de uma das mais
antigas e famosas famílias em Florença. Em 1851, Guiccardini e outros
seis crentes foram presos pela policia por terem organizado leituras
privadas da Bíblia, em sua casa. Foi condenado a 6 meses de prisão, e
mais tarde exilado. Numerosas prisões de crentes se seguiram em
Florença, por nenhuma outra razão a não ser a profissão da fé
evangélica, e por organizarem leitura da Bíblia em seus lares. A Itália
tem tido um forte trabalho indígena por mais de um século, o qual
continua, apesar do que e inimigo possa fazer.
Os esforços missionários continuaram a
espalhar-se através de toda a Europa, América do Norte, do Sul, Canadá,
Neva Zelândia, Austrália, África, Rússia, India e Ilhas das Caraíbas. A
China, Japão e outros países do Extremo-Oriente foram alcançados e
grupos de assembleias foram formados em todos estes ugares.
Muitas organizações missionárias bem
conhecidas actualmente tiveram suas origens nos Irmãos. Podiam-se
mencionar muitos nomes ligados ao grande esforço de obedecer ao
mandamento de Senhor: "Ide todo o mundo e pregai o Evangelho...".
Podemos pensar no Dr. Baedeker, que gastou
tanto tempo na Rússia, Hudson Taylor na China, F. S. Arnot na África, C.
Bull no Tibete, ao lado dos que já foram mencionados, e muitos mais que
deixaram suas casas e familiares, sacrificando-se, em simples
obediência ao mandamento do Senhor. Tem sido afirmado que de todos os
grupos evangélicos, nenhum providenciou tantos missionários para terras
estrangeiras como o movimento conhecido por "Irmãos". A nossa oração
constante é para que os jovens de hoje possam receber essa mesma visão
que receberam os primeiros Irmãos, entregando-se totalmente ao Senhor, e
estando dispostos a ir onde quer que Ele es envie. Os campos de hoje
estão na verdade brancos para a ceifa, o mandamento de ir foi dado há
quase 2.000 anos atrás, e nunca foi rescindido. Há tantas portas
abertas, tantas almas partindo para a eternidade sem Cristo; que
desculpa teremos nós para, apresentar ao Senhor por não termos saído
para alcançar os perdidos? Jovem cristão, não esperes que os homens te
enviem, olha somente para o Senhor, e confia nEle completamente para
direcção e para o suprimento de todas as tuas necessidades. Não
compareças perante o tribunal de Cristo de mãos vazias.
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Nesta secção, tentaremos contemplar brevemente a posição doutrinária do movimento dos Irmãos, e considerar a posição corrente.
Não têm faltado ao movimento os seus
críticos e detractores, mas poucas pessoas espirituais poderiam negar
que não tenha sido uma tentativa honesta de retorno às Sagradas
Escrituras, e que tenha e certa medida actuado como um saí da terra para
por em cheque a apostasia da cristandade moderna.
Os antigos crentes em Dublin e Plymouth
voltaram ao Novo Testamento para sua direcção. Eles não perguntaram:
"Que diz Roma?"; ou: "Que pensavam os Pais da Igreja?"; mas sim: "Que
diz Espírito Santo através da Palavra?". Aqui estava o princípio vivo, a
base para cada reavivamento autêntico que tem tido lugar, um retorno à
Palavra de Deus.
Havia uma simplicidade de coração quase que
ingénua em resposta à leitura da Bíblia, e que conduzia a uma completa
devoção a Cristo como Cabeça da Igreja. Isto conduziu em troca a um
reconhecimento da unidade do Corpo de Cristo, á presença do Espírito
Santo, o sacerdócio de todos os crentes e as implicações da unidade
cristã.
Eles reconheceram que a Igreja não é uma monarquia, tão-pouco uma democracia, mas sim uma teocracia.
Ou seja, somente Cristo é o Cabeça da Igreja. A
liberdade do Espírito não é a "liberdade para que cada um faça o que
lhe apetece, mas para que cada um seja guiado e controlado pelo Espírito
Santo. Uma coisa que se verifica em assembleias modernas é a relutância
em reconhecer a importância de uma obediência literal ao ensino das
Santas Escrituras. E alguns casos, o ensino e princípios da Bíblia têm
sido suplantados pelos ensinos de homens, por vezes em busca de algo de
novoe, e outras vezes por ser mais fácil seguir os homens, do que, em
oração e devoção, seguir o ensino do Senhor, tal come está revelado em
Sua Palavra.
Nos dias antigos, o exame longo e cuidadoso
das Escrituras constituía a regra na decisão da conduta, tanto dentro
como fora das reuniões. Os antigos Irmãos verificaram que o próprio
Senhor coloca anciãos em cada Igreja como guias e ensinadores. Isto não
implica que es crentes devam eleger anciães de acordo com os seus
próprios desejlos, mas que devem sim esperar no Senhor que Ele levante
aqueles que Ele qualifica para apascentarem o rebanho. Os santos irão
reconhecer aqueles a quem e Espírito Santo tem chamado, e submeter-se-ão
a eles no Senhor.
Os antigos "Irmãos" também puderam ver pela
Escritura que cada assembleia loca devia ser independente das outras no
governo da igreja, não estando ligadas por estruturas denominacionais,
ou políticas eclesiásticas, mas sendo livres para reconhecerem outras
assembleias como parte da grande grela de Cristo, quando vistas nessas
assembleias evidências da presença de Cristo.
Nas antigas reuniões dos Irmãos, a prática de
baptizar os crentes na altura da sua confissão de fé no Senhor Jesus,
tal come é ensinado e exemplificado no Nove Testamento, foi iniciada, e
tem sido continuada até hoje nas assembleias, através de todo o mundo.
Da mesma forma, o ajuntamento para celebrar a
Ceia do Senhor era, e tem sido até hoje, uma das principais reuniões dos
Irmãos. Em relação a isto, podemos acrescentar dois comentários, ou
melhor, duas citações dos antigos Irmãos: Primeiro, o Dr. Edward Cronin,
convertido do catolicismo romano que escreveu a um amigo: "Óh, os
abençoados períodos com a minha alma que conhecemos naquelas primeiras
reuniões, quando deixando a mobília lado, e pondo a simples mesa com o
seu vinho, nos encontrávamos para recordar e Ser períodos de alegria
para nunca mais esquecer; certamente que tínhamos e sorriso e aprovação
do Mestre naquelas reuniões". Em segundo lugar, citamos George Müller:
"Em relação à Ceia do Senhor embora tenhamos um mandamente específico
relacionado com a frequência da sua observância, o exemplo dos apóstolos
e dos primeiros discípulos levar-nos-á, apesar disso, a observar esta
ordenança em cada dia do Senhor". Assim tem esta prática continuado até
ao dia presente em todas as assembleias conhecidas por Irmãos.
O movimento conhecido como Irmãos surgiu
porque a vida que existia na Igreja parecia ser formal e sem vida.
Quando raiou e século XVIII, raiou uma igreja adormecida, havia pouco ou
nenhum entusiasmo em lado algum por uma caminhada íntima com o Senhor, a
aderência à Sua Palavra tinha deixada de lado, e o Racionalismo e
Ritualismo estavam tomando o seu lugar.
O movimento dos Irmãos começou
espontâneamente, como um movimento do Espírito Santo operando nos
corações e mente dos homens. Ocorreram fraquezas, e ainda ocorrem hoje.
Elas sempre ocorrerão enquanto os homens não seguirem pensar através das
implicações totais de suas crenças, ou compreenderem o que é que estão
realizando. Contudo, e apesar das fraquezas, Deus tem-Se dignado
abençoar este movimento de uma forma notável, para a salvação de
milhares de preciosas almas, e para o avanço de Seu reino universal.
Os Irmãos primitivos não publicaram qualquer
credo, ou declaração de fé, mas tal como tem side diversas vezes dite
neste esboço, eles dependiam unicamente da direcção de Espírito Santo,
através da Palavra de Deus. Há, contudo, quatro princípios básicos e
duradoiros que es têm caracterizado desde o princípio, e aqui, cito F.
R. Coad. Ele apelida-os de "quatro liberdades dos Irmãos":
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